A hipótese desse projeto é a de que, atualmente, observamos a formação de um novo tipo de massa que, embora por vezes pareça um retorno à forma mitológica da horda primeva, é na verdade organizada e estruturada em torno de um “totem sem tabu” e profundamente marcada por uma regressão não apenas civilizacional (entendida como retorno ao narcisismo primário infantil), mas também ontológica. O emprego da ideia de regressão aqui busca tornar tangível menos um retorno a um estado anterior da evolução humana e mais um estado posterior até então inexistente, produzindo, nesse golpe, a aparência de uma pós-história com a produção de desejos inconscientes absolutamente inéditos. É evidente que essa constituição de massas híbridas de humanos e não-humanos nos entornos de um regime ambíguo de relações com as máquinas envolve ainda uma gama de outras questões não menos importantes, tais como os processos de transformação dos modos de existência humana, sua relação com a noção freudiana de Kulturarbeit (trabalho da cultura) e o problema da expressão da pulsão de morte como destrutividade pura nos processos individuais e nos sociais.
Nossos objetivos gerais são a investigação das seguintes problemáticas:
(1) Os modos de composição das massas humanas: as massas, sujeitas às necessidades econômicas, também passam pelo processo de desenvolvimento da cultura que é, sem sombra de dúvidas, influenciado por todos os outros fatores;
(2) Os novos modos de relação entre humanos e não-humanos: a partir das alterações nos processos tradicionais de humanização, abre-se espaço para novas formas de inscrição do Mal na vida psíquica e novas representações produzidas pela parte consciente do Eu. Portanto, é preciso rediscutir, não só as funções e operações do Eu na teoria freudiana, mas também as transformações nos processos de sua constituição, mobilizadas por aquilo que Anders constata a respeito da relação homem-máquina e que sintetiza na fórmula “não podemos contar conosco, pois contamos pior que as máquinas” (Anders).
A partir desta problemáticas gerais, podemos elencar nossos objetivos específicos de pesquisa sob a forma das seguintes perguntas:
(1) Em que consiste o modo de relação designado por Anders para a associação entre sujeitos e máquinas e em que pontos ele converge com ou diverge dos processos de formação das massas, de sua miséria psicológica e da experiência do sujeito perante elas tal como explicitados por Freud?
(2) Como as políticas de relação com as máquinas relacionam-se com as intensidades do campo político contemporâneo e com os fenômenos atuais de formação de massas?
(3) Que novas modos de formação de massas e de sujeitos podem ser pensados diante da impossibilidade levada a seu limite de uma distinção clara entre o contexto social e o conteúdo técnico/maquínico?
(4) De que modo a formação de massas de humanos e máquinas dão vistas a novos processos de humanização, novas formas de inscrição do Mal na vida psíquica e novas representações com participação consciente do Eu?
Coordenação: Monah Winograd
Vigência: 2023 – 2027.